O lugar da negociação na mobilidade
[publicado no livro Nomadismos Tecnológicos, editado por Giselle Beiguelman e Jorge La Ferla) Ed. Fundacion Telefonica, 2011 e Revista Tatuí, 2011]
por Lucas Bambozzi
Tão logo uma imagem é apresentada como arte, por este próprio ato, uma nova estrutura de referência é criada da qual não pode escapar. Torna-se parte de uma instituição tão certamente quanto o brinquedo no berçário. (E.H. Gombrich) [1]
Toda arte deve se tornar ciência, e toda ciência se tornar arte. (Autor desconhecido: anotação feita à mão, encontrada nos papéis de Hegel em 1795) [2]
A inevitabilidade dos avanços nas telecomunicações, somada à sua crescente popularização, vem abalando ceticismos e endossando as potencialidades dos dispositivos celulares como ferramentas em rede, como dispositivos cinemáticos ou como estruturas plausíveis para a expressão artística. Diante de vertentes anteriores como a net-arte, as mídias locativas acumulam a simpatia de terem escapado dos limites da tela do computador desktop, e permitirem retomar experiências na trama da cidade, como preconizam Marc Tuters e Kazys Varnelis em Beyond Locative Media.[3]
Desde o início dos anos 2000, enxerga-se nessas tecnologias uma perspectiva de criação séria e complexa, que se estende para aspectos sociais relevantes, potencializam comunidades e permitem, ao menos tecnicamente, uma participação nos fluxos da comunicação online em escala planetária.
Mas, se as mídias locativas aplicadas à arte endossam o discurso do “para além das galerias ou das telas de computador como territórios”[4], onde estão estes trabalhos hoje? Por que não vemos o surgimento de uma produção realmente consistente e mais presente em nossas expectativas de confluência entre o virtual e o real? Se esse tipo de proposta guarda relações intrínsecas com práticas potentes no campo da arte, como o conceito de site-specific e da arte relacional, por que a apatia do circuito da arte com relação a projetos dessa natureza? Dentre as práticas correntes, subvencionadas na maioria das vezes, espontâneas em sua minoria, que consistência podemos esperar para essa ‘arte locativa’?
Por que não tem havido grandes artistas locativos?
Sempre que questões como essa sobressaem, me lembro de um artigo de Steve Dietz,[5] que tem o título: Por que não tem havido grandes net-artistas?[6] Tal pergunta aplicada ao universo da net-arte significaria, segundo Dietz, em refazer a armadilha de uma legitimação ansiosa, articulada retoricamente. Seria algo como assumir a fraqueza de um segmento em almejar-se como autêntico no circuito da arte contemporânea.
Assim, a pergunta ‘Por que não tem havido grandes artistas locativos?’ seria como declarar uma condição já deficitária, novamente ansiosa, que assume reativamente a limitação de um campo tecnológico – que busca se afirmar como prática de convergência, rompendo com circunscrições físicas dos suportes tradicionais – em se lançar no terreno da arte, problema que parece se encontrar menos na qualidade dos artistas, e mais nos mecanismos de apreciação e inclusão típicos do sistema da arte.
As contradições se evidenciam aos poucos. As estratégias demandadas pela arte sempre foram consideradas incompatíveis com ações sociais efetivas, bem como se mostram agora conflituosas as relações gerenciadas pelos artistas diante de fabricantes, marcas, operadoras, espaço urbano e poder público, especialmente em obras que se pretendem imersas no campo locativo.
Se listássemos o que de mais significativo foi produzido no mundo teríamos um panorama que valeria como contra-argumentação para a pergunta-ardil.[7] Mas a armadilha é mais danosa e corrosiva se não enxergamos o que está de fato sendo colocado.
Diante desse jogo de forças, caberia perguntar que pontos de tensão, expressividades ou qualidades artísticas percebe-se, de forma objetiva ou subjetiva, num trabalho dito locativo, a partir daí buscando compreender os supostos desapontamentos com relação a uma arte dessa natureza.
Um novo nomadismo entre expectativas e presunções
Em algum ponto, no âmago de nossas expectativas ou na própria tecnologia, talvez haja uma sensação sutil de decepção diante das práticas locativas da arte. Talvez não estejamos equalizando bem nossas euforias. Talvez esperássemos por maior número de projetos sendo disparados em redes 3G para que uma potencialização entre arte e vida pudesse ser melhor amparada pela tecnologia. Alguns talvez desejassem ver as grandes bienais ou feiras de arte absorvendo essa produção e produzindo as novas estrelas de uma arte do posicionamento e da localização.
Do ponto de vista operacional, tensões dessa prática são evidentes: projetos ditos locativos demandam uma logística que associa interesses nem sempre confluentes. Para acontecerem dependem de subsídios, de uma estrutura lateral, paralela, que implica em negociações, investimentos em programação e setups, envolvendo produtores, agenciadores, fabricantes, operadoras de comunicação, corporações. Essas dependências não significam necessariamente submissão ideológica, como querem os puristas, mas um fazer que implica em estratégias e acordos que são parte do circuito da arte no mínimo desde a Renascença. Por sua vez, a manutenção ou permanência implica esforços à parte, na maioria das vezes mobilizando estruturas e equipes de acompanhamento de seu funcionamento.
Mas de um ponto de vista mais teórico, percebemos como os postulados eufóricos caem por terra, como tecnologias e conceitos a ela associados começam a apresentar efeitos colaterais. Ou como deixam transparecer presunções latentes, a exemplo de retóricas típicas de slogans como Anytime, Anywhere, Everywhere, ou Connecting People,[8] que demonstram menos uma eficiência persuasiva junto ao público e mais as vontades de onipresença de uma marca.
Dentre as possíveis distopias, estão as frustrações com relação a participações sociais mais efetivas ou a crença de que os avanços tecnológicos estariam promovendo mobilizações nunca antes vistas – mas que operam segundo as lógicas de um capitalismo semiótico e cognitivo.
Outra presunção corrente, quando se fala em ‘mobilidade’, refere-se às supostas facilidades em darmos conta do espaço físico em escala global, muitas vezes traduzidas em bordões acerca das possibilidades de um deslocamento supostamente livre, ‘nomádico’. Assim, quando pensamos em deslocamentos, não apenas físicos, mas experimentados em condições subjetivas, somos incitados a nos imaginarmos em uma condição ‘nômade’, criativa, excitante pelo desconhecimento das especificidades dos espaços transitoriamente habitados. Contudo, os problemas da extensão espacial foram suplantados por problemas temporais, de tempo vencido ou faltante.
Todos nós gostaríamos de acreditar mais nos prazeres desse estado em deslocamento, em constante porvir, uma atualização do ‘vir-a-ser’ em função do espaço, a perspectiva de habitar simultaneamente contextos distintos. Para Jordan Crandall,[9] essa seria uma condição de readiness, de prontidão, de eficiência e alerta contínuo que nos é solicitada. Contudo, tal estado é evidentemente incompatível com sistemas precários – com a iniquidade social, com as gambiarras do terceiro mundo –, demandando junções heterogêneas, como uma configuração de periferia e centro juntos, a favela em rede, o local em conflito com o global. Obstáculos não de ordem física, mas principalmente econômicos e políticos, que impedem o livre fluxo das comunicações.
Nesse contexto, que tipo de nomadismo pode, por exemplo, ser caracterizado por tecnologias que não permitem uma comunicação telefônica minimamente cômoda entre países vizinhos na América do Sul? Que tipo de nomadismo pode ser concebido para um contexto de cerceamento de liberdades civis por tecnologias que se apuram em controle, posicionamento e biometria? As fronteiras físicas, nessa nova equação espaço-temporal, não se esvaneceram. Pelo contrário, parecem estar cada vez mais rígidas.
Há 20 anos caiu o muro de Berlim, mas hoje se complica o controle alfandegário pelo mundo. Apesar da crise de oportunidades na Europa, calcula-se que na última década mais de 2.500 imigrantes perderam suas vidas por tentar entrar clandestinamente em países europeus. Pergunta-se: o ir e vir, o trânsito entre fronteiras, o deslocamento entre culturas, tem sido de fato facilitado a partir de um mundo mediatizado? As evidências apontam que o trânsito se torna mais complexo, mais desconfiado, sujeito a medições biométricas, dadas as ferramentas de escrutinização que utilizamos às vezes conscientes – como os cookies, pequenos Cavalos de Troia – sabendo da inutilidade de colocarmos na balança os prós e contras, cientes de que em algum momento tudo pode se voltar contra nossas escolhas. Falamos aqui menos de vigilância mas de rastreamento e controle, como enfatizado por autores nem tão apocalípticos como Thomas Levin, David Lyon, Felix Stalder ou Brian Holmes.
A multidão hiperconectada em um país como o Brasil (são mais de 168 milhões de aparelhos celulares em uso[10]) envolve inevitavelmente a participação, em rede, dos “homens lentos” delineados pelo geógrafo Milton Santos[11], que sugere estratégias de sobrevivência para os fatalmente excluídos da instantaneidade e crescente mediação tecnológica da vida atual. Essas seriam “forças subjetivas implicadas, […] vontades e desejos que recusam a ordem hegemônica, […] linhas de fuga que forjam percursos alternativos”, como interpreta Peter Pál Pelbart[12] a respeito das “forças do império” de Hardt e Negri.
Poderíamos então entender que ‘lugares’ não são mesmo rígidos em sua constituição física e que estar sob a égide de um mundo que visa a eficiência não implica apenas em conivência ou cooptação. Isso significa acreditar em potências micropolíticas, no nomadismo como um espaço de invenção, e talvez em novas nuances semânticas para a palavra ‘negociação’.
Como afirma Crandall, “se as tecnologias das redes, da velocidade e rastreamento reativaram estes lugares do ‘micro’ – do espaço afetivo, do reconhecimento da intimidade, da disposição e prontidão – então este é um espaço que pode ser politizado”.[13] Antes de empacotarmos mais um slogan eufórico para uma Era, é preciso entender as negociações que envolvem estes fluxos ditos nômades, que residem para além das aparências, na ânsia e predisposição à conectividade full-time, entre a submissão e a conscientização aos sistemas midiáticos.
Lugares móveis
O lugar ‘lá fora’, o espaço exterior, vem sendo re-imaginado, com a ajuda ou não dos sistemas de mediação. Mas a partir de experiências percebidas pela portabilidade, pela miniaturização de câmeras e processadores da computação ubíqua, passamos a ser pautados com maior insistência sobre suas urgências. No contexto de um novo nomadismo, falaríamos de um lugar que se habita transitoriamente. Por isso se generaliza, se torna qualquer – e que tende a não gerar urgências ou comprometimentos.
Haveria então um quase-paradoxo: a especificidade do lugar demanda reconhecimento, envolvimento, atenção concentrada para um contexto. Ao passo em que a portabilidade e as qualidades dos fluxos que caracterizariam um novo nomadismo, implicariam muitas vezes num desprezo às particularidades do contexto. De fato, com o crescimento do chamado ‘espaço informacional’, o contexto se torna maleável, aferido por leitura semântica e semiótica, como efeito de determinadas estruturas urbanas constituídas a partir da comunicação e informação.
Esse ‘entranhamento’ dos fluxos de informação nas formas físicas do mundo vem permitindo imaginar geografias possíveis, em processos experimentais e subjetivos – em cartografias que se potencializam a partir de novos procedimentos de medição, localização e posicionamento.
Assim, na medida em que as pesquisas em torno da mobilidade passam a buscar o entendimento das macrorealidades e envolvem saberes entrecruzados (paradigmas que até há pouco não se sobrepunham tão nitidamente) constitui-se uma base comum de problematização da noção de lugar, da discussão do espaço público e dos mapeamentos em múltiplas escalas – onde micro e macropolítica não mais se contrapõem, mas se tornam uma preocupação contínua.
Negociando especificidades
De um modo ou de outro, o lugar se mostra novamente em pauta. Diante da vastidão de possibilidades entre Spiral Jetty de Robert Smithson, uma obra de Richard Serra, uma projeção de grande escala de Jenny Holzer e um projeto de ‘realidade aumentada’ para um espaço específico da cidade, surgem também pontos em comum. As possibilidades ‘entre’ uma noção e outra de ocupação do espaço não evitam a pergunta, talvez rasteira, sempre subtraída do fazer artístico em grande escala: como foram negociados esses trabalhos? Como eles puderam acontecer?
Que tipo de obras ainda surgirão nesses novos e movediços ‘lugares’ que tomam forma no mundo? De que forma explicitam, no contexto da arte, seus acordos ou mecanismos de negociação?
Dentre os projetos locativos relevantes já apresentados no Brasil percebe-se que estabeleceram uma relação bastante profícua com a realidade social, mas não exatamente com o sistema da arte. Os projetos AIR (2007), do Preemptive Media; Can You See Me Know? (2008) do Blast Theory; Tactical Sound Garden (2007-2010) de Mark Shepard; Bi Ciclos (2010) de Andrés Burbano ou Como se fosse a última vez (2010) do grupo Subtlemob,[14] foram adaptados ao contexto local no sentido de produzir uma conscientização com relação ao contexto e ao meio ambiente, numa visão ampla e distante da superficialidade ou oportunismos que permeiam alguns projetos nessa linha. A configuração final desses projetos foi resultante de uma esfera local em diálogo (leia-se também ‘negociação’) com as particularidades de seu entorno – e menos, como seria de esperar, de uma associação mais rasteira, com questões comerciais ou ligadas ao patrocínio. Ou seja, deram conta das premissas associadas a uma obra locativa, além de terem levado em conta os aspectos políticos derivados de um embate entre tecnologia e poderes corporativos. Todavia, uma suposta frustração estaria associada talvez à idealização do impacto esperado nos meios de comunicação, ou pelo pouco que lograram dialogar com o estado ‘oficial’ da arte local.
Por sua vez, Armin Medosch, em 45 Revolutions Per Minute: history on heavy rotation[15], nos incita a pensar o quanto ainda podemos estar repetindo euforias anteriores. Utopias com relação à transmissão sem fio, já houve algumas: na transmissão de energia elétrica sem fio por Nicola Tesla, nos manifestos Futuristas em que Marinetti elegia as ondas de rádio como benéficas, estimulantes para o cérebro. Até o presente momento, o curso da história das mídias móveis parece ter caminhado em direção contrária à expectativa de Bertold Brecht, por exemplo, tendo em vista que as emissões de rádio e televisão se consolidaram não de muitos para muitos, mas de poucos para muitos.
É fato, porém, que o caráter potencialmente distributivo e aberto de sistemas de comunicação em rede sem fio ainda está sob configuração. Haveria, portanto, um mundo de possibilidades ainda por serem exploradas.
Tais possibilidades se mostram atraentes sob diversos ângulos, sobretudo o comercial, especialmente em países-mercados como China e Brasil. No caso brasileiro, a infraestrutura de telefonia por fio levou 100 anos para conectar cerca de 40 milhões de aparelhos. Em pouco mais de 15 anos de desenvolvimento da telefonia móvel, chegamos aos já mencionados 168 milhões de aparelhos em operação. Do ponto de vista social, ou das expressões individuais, o que se pergunta é como esse mar de conectividade pode se converter em alguma plataforma de uso comum e distribuído. Como essa base pode potencializar a expressão individual para além das redes sociais ‘a la Orkut’[16] ou Facebook ou para além da conexão ‘um para um’, entre bolhas privadas? O que dizer ou fazer quando se tem finalmente as ferramentas para tanto, em uma perspectiva global?
Na tentativa de resposta a perguntas como essa, há não apenas o desafio de enfrentarmos um sistema de forças e fraquezas ainda em turbulência, mas também uma noção de responsabilidade: para que a realidade social não seja mediada de forma a se tornar inócua, lisa, sem os relevos e as intensidades da vida.
Para comentar aspectos menos evidentes dos agenciamentos sociais que envolvem tecnologias de comunicação, destaco o projeto Ouvidoria, dos pernambucanos Lourival Cuquinha e Thelmo Cristovam, apresentado pela primeira vez na exposição O Lugar Dissonante (2009), na Torre Malakoff, em Recife, e posteriormente, de maneira ampliada, na Praça do Carmo, no centro de Belém em 2010.
O projeto visava ofertar ligações telefônicas gratuitas ao público em geral, em aparelhos do tipo ‘orelhão’ localizados em espaços de circulação aberta e pública. Em troca, como forma de obter a gratuidade da ligação, o usuário cede o direito de uso do conteúdo de sua conversa, que é roteado para uma sala de audição, onde os visitantes podem ouvir os telefonemas – através de um sistema de processamento de áudio que mixa as fontes sonoras. O usuário é notificado de antemão sobre este detalhe, através de um impresso colocado ao lado dos aparelhos.
O que se estabelece nesse ‘escambo’ é uma forma aplicada de gift economy,[17] em que os participantes recebem pequenos benefícios privados, gerados a partir do bem gerado por uma comunidade. Em nome de um projeto artístico, o usuário tem acesso a certas regalias. Em função de sua ação, associada à telefonia e seus custos, percebe-se numa relação que equaciona os benefícios e eventuais prejuízos associados à sua privacidade. Cabe ao público decidir sobre essa interação. Conforme enfatiza a crítica de arte Clarissa Diniz[18], “mais do que promover a ‘interação’ do público, Ouvidoria transforma o público em cúmplice da obra”. Não seria uma coautoria, evitando um jargão típico do boom da interatividade, mas sim uma forma de co-responsabilidade.
Não apenas assumindo a condição de troca que lhe é dada, mas também participando dos conflitos gerados por uma espécie de ‘mais-valia comunicacional’, o público negocia sua privacidade, ou na maioria dos casos, abre mão dela por falta de opções. Reposicionando uma tecnologia simples e renegociando o social – que ressoa na sala de audição vazia e vaza intersticialmente para além do espaço expositivo –, Ouvidoria acaba transferindo para o público o dilema da negociação.
Esse seria um tipo de trabalho que não acontece sem um agenciamento. Ou, talvez, o agenciamento seja o próprio trabalho.
Dada a dificuldade dos trabalhos em rede – das mídias locativas apresentarem uma forma reconhecível para apreciação visual ou de outros sentidos no campo da arte-, sobressaem-se a negociação, a mediação, o agenciamento e a troca de valores entre o artístico, o social, o comercial e o entretenimento. Ao assumir de forma mais explícita esses processos e interconexões, talvez as artes da comunicação alcancem outros patamares. Sem o compromisso de cumprir com expectativas associadas a preceitos artísticos estritos, pode ser mais interessante detectar as urgências de participação na chamada vida pública, por exemplo.
Ou talvez a ética funcione como definidora também de um conjunto estético, em um tipo de obra que nem sempre produz imagens, mas nos faz ver o que circula entre elas.
Os valores inerentes às práticas artísticas mais específicas nem sempre se fazem ver pelos olhares convencionais. Demandam a vontade de enxergar os saberes entrecruzados embutidos em suas articulações. Sua legitimação depende de aproximações entre esses olhares, colocando-se lado a lado as similaridades entre conceitos, conotações políticas, formas de enunciação e tensões.
De fato, as estruturas da negociação e da estratégia não são nada novas, estão apenas mais visíveis. De uma forma ou de outra, se embutiram no sistema da arte e das relações que estabelecemos em espaços públicos.
[1] “Meditações sobre um cavalinho de pau”, ensaios reunidos publicado em 1963.
[2] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)
[3] Tuters, Marc e Varnelis, Kazys, Beyond Locative Media. Networked Publics, 2006
<http://networkedpublics.org/locative_media/beyond_locative_media>
[4] Ibid.
[5] Dietz, Steve, “Por que não tem havido grandes net-artistas?” in Leão, Lucia (org.) Derivas: Cartografias do Ciberespaço, São Paulo, Anablume/Senac, 2004, pgs. 137-147
[6] Trata-se de uma formulação provocativa, baseada em uma outra, feita em 1971 pela historiadora de arte Linda Nochlin, em seu artigo: “Why Have There Been No Great Women Artists?” A pergunta apontou o quanto as questões feministas permaneciam presas a uma condição masculina hegemônica. “A primeira reação das feministas é engolir a isca, o anzol, a linha e o chumbo, e procurar responder o problema da forma como ele é dado”, comenta Nochlin. No caso, explicitar as armadilhas de um discurso sectário pode ser uma forma de enxergar as ideologias em jogo.
[7] Há centenas de dissertações ou teses atualmente sistematizando pesquisas deste tipo. Me coloco também como observador atento através de meu envolvimento com o Festival arte.mov, que desde 2006 discute criticamente a evolução das chamadas “artes locativas” através de projetos que se estendem para o espaço urbano e disparam aspectos sociais relevantes.
[8] A expressão “Em qualquer momento, em qualquer lugar, em todo lugar” (em uma tradução literal), tem sido largamente utilizada por corporações ligadas à telecomunicação, nem tanto como slogan, mas como discurso generalizado. Connecting People (Conectando pessoas) é um slogan associado à Nokia e busca salientar o aspecto supostamente humano e íntimo de seus produtos. São dois dentre vários outros exemplos possíveis, que buscam incutir um aspecto eufórico e idealizado de nosso tempo.
[9] Crandall, Jordan, Tracking and its landscapes of readiness, Nettime.org, 2005.
[10] Segundo dados da Anatel. Fonte: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do
[11] Santos, Milton, A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção,
São Paulo: Hucitec, 1996, pgs. 50, 75, 204.
[12] Pelbart, Peter Pál, Vida Capital: Ensaios de Biopolítica, São Paulo: Iluminuras, 2003, p. 88
[13] Crandall, Jordan, Op. cit.
[14] Projetos viabilizados pelo Festival arte.mov.
[15] Texto apresentado como palestra de abertura do simpósio do arte.mov 2007, sob o tema “Utopias, distopias e comunidades emergentes”.
[16] O Brasil ocupa o primeiro lugar no uso desta plataforma, com 62% dos usuários do planeta, muito acima dos EUA (14%) e Índia (10%). Fonte: http://novo-mundo.org/log/wp-content/uploads/orkut-stats.gif
[17] O conceito, originário das ciências sociais, está aqui utilizado em referência à atualização do termo feita por Richard Barbrook em seu ensaio The Hi-Tech Gift Economy (1998) que se refere aos modos de troca utilizados no contexto da Internet.
[18] A curadoria de O Lugar Dissonante é assinada por Clarissa Diniz e Lucas Bambozzi. O texto relativo à obra Ouvidoria no catálogo da exposição.foi redigido na sua maior parte por Clarissa, como é o caso do trecho citado.